Naquela tarde, saiu sem maiores pretensões. Arrumou o cabelo como de costume, vestiu um jeans velho e colocou aquela blusa preta que tanto gosta. Calçou o tênis surrado, passou um batom, pegou a bolsa e saiu. A tarde fria, iluminada timidamente por uns poucos raios de sol, trazia-lhe saudades de uns tempos alegres, em companhia de pais e irmãos, na velha chácara onde morou boa parte de sua vida. Olhava sem prestar muita atenção para coisas e pessoas que passavam, esboçava um sorriso suave e sincero para uns poucos.
Gracejou com a criancinha que brincava na calçada. Lembrou-se do filho, o único que teve ainda em sua adolescência, fruto de uma ilusão com um homem mais velho e comprometido, que desfez todas as promessas e desapareceu assim que soube da gravidez. Por causa da aventura, nunca recebera o perdão dos pais e o filho agora estava longe e feliz com esposa e filhos, tão longe e tão feliz que nunca tinha tempo para fazer uma visita ou mesmo dar um telefonema.
Andou ainda mais algumas ruas, sentiu no ar um cheiro de bolo e frutas. Costumava fazer bolos e compartilhar segredos quando passava alguns dias na casa da única e verdadeira amiga. Onde estaria ela agora? Depois que completou o colegial, mudou-se para a cidade grande, enviou algumas cartas, mas depois de um tempo calou-se. Boas lembranças. Mais adiante, na esquina, deparou-se com uma velha conhecida e seu tabuleiro de mingaus e cafés. Cumprimentou a senhora intimamente, tomou do mingau de tapioca que tanto gosta e provou mais uma vez o café quente e forte feito pela senhora prendada.
Tudo comum, tudo perfeito naquela tarde tão agradável. Andou por mais um tempo, sentiu no rosto o toque carinhoso e sutil do vento em seu rosto, já tão marcado pelo tempo e pela vida. Pensou um pouco sobre o vento que a tocava: seria o mesmo vento que a tocava em sua juventude, quando caminhava vagamente pelas ruas, com a cabeça cheia de sonhos e desafios, cheia de amores e esperanças? Seria o mesmo vento, seu velho amigo de andanças e devaneios?
Caminhava agora mais devagar, os olhos presos ao chão, um tom sério no semblante. Sentiu uma falta profunda de pessoas e de vidas, estava enfadada de tanta solidão e lembranças difusas. Chegara enfim às margens do Cachoeira, fortalecido pelas chuvas e vingativo por natureza. Contemplou por alguns minutos a inquietação das águas correntes, refletiu sobre sua brevidade: águas que nunca param, seu momento é rápido como um piscar de olhos.
Suspirou profundamente, subiu no parapeito da ponte e, lançando um último olhar sobre a cidade fria e indiferente à sua existência, jogou-se resignada nas águas do rio, afogando junto com o corpo cansado, as tristezas e as saudades de outrora. E o rio, orgulhoso, recebeu com júbilo e fúria àquela oferenda voluntária.
Gracejou com a criancinha que brincava na calçada. Lembrou-se do filho, o único que teve ainda em sua adolescência, fruto de uma ilusão com um homem mais velho e comprometido, que desfez todas as promessas e desapareceu assim que soube da gravidez. Por causa da aventura, nunca recebera o perdão dos pais e o filho agora estava longe e feliz com esposa e filhos, tão longe e tão feliz que nunca tinha tempo para fazer uma visita ou mesmo dar um telefonema.
Andou ainda mais algumas ruas, sentiu no ar um cheiro de bolo e frutas. Costumava fazer bolos e compartilhar segredos quando passava alguns dias na casa da única e verdadeira amiga. Onde estaria ela agora? Depois que completou o colegial, mudou-se para a cidade grande, enviou algumas cartas, mas depois de um tempo calou-se. Boas lembranças. Mais adiante, na esquina, deparou-se com uma velha conhecida e seu tabuleiro de mingaus e cafés. Cumprimentou a senhora intimamente, tomou do mingau de tapioca que tanto gosta e provou mais uma vez o café quente e forte feito pela senhora prendada.
Tudo comum, tudo perfeito naquela tarde tão agradável. Andou por mais um tempo, sentiu no rosto o toque carinhoso e sutil do vento em seu rosto, já tão marcado pelo tempo e pela vida. Pensou um pouco sobre o vento que a tocava: seria o mesmo vento que a tocava em sua juventude, quando caminhava vagamente pelas ruas, com a cabeça cheia de sonhos e desafios, cheia de amores e esperanças? Seria o mesmo vento, seu velho amigo de andanças e devaneios?
Caminhava agora mais devagar, os olhos presos ao chão, um tom sério no semblante. Sentiu uma falta profunda de pessoas e de vidas, estava enfadada de tanta solidão e lembranças difusas. Chegara enfim às margens do Cachoeira, fortalecido pelas chuvas e vingativo por natureza. Contemplou por alguns minutos a inquietação das águas correntes, refletiu sobre sua brevidade: águas que nunca param, seu momento é rápido como um piscar de olhos.
Suspirou profundamente, subiu no parapeito da ponte e, lançando um último olhar sobre a cidade fria e indiferente à sua existência, jogou-se resignada nas águas do rio, afogando junto com o corpo cansado, as tristezas e as saudades de outrora. E o rio, orgulhoso, recebeu com júbilo e fúria àquela oferenda voluntária.
Celly Grapiúna
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