terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Vontade

Era uma moça pacata
Sem sonhos, sem alegrias
Até que um dia qualquer
Algo estranho contemplou,
E uma imensa vontade surgia

Sentiu uma vontade enorme
Que mudou sua vida vazia
E era a vontade tão forte
Que consumia todas as horas do dia

Acordava com a vontade
E com a vontade dormia
Já não comia, nem bebia:
Apenas a vontade lhe nutria!

Mas era uma vontade lasciva
Aquela que a moça possuía
E de tanto querer, engravidou
Da própria vontade que tinha

E gestou com muito mais vontade
O feto da vontade que crescia
E antes do tempo deu à luz
E sua imensa vontade nascia

Mas era a vontade tão forte
Tão voraz e mesquinha
Que mal nascera, devorou
O frágil corpo que a mantinha.
E só restou da pobre moça
A imensa vontade que tinha!  


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O desejo é um fio quente e viscoso
Que percorre com ânsia animal
As entranhas do frágil corpo
E quando chega ao seu destino
Suscita  torres, inunda  grutas...
Promovendo o enlace frenético e preciso
Da libido do macho
Com a luxúria da puta.

Inerte

Da cama cinza da monotonia
Desperto numa manhã azul
Com verdes, amarelos e solares
Sonâmbula de já não ser
Apática do ser-a-vir
Duvidosa do quê será...
Inerte, entrego-me à sombra maviosa do ócio
E ali, a-dor-meço, rendida aos domínios da saudade.



segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Invernáculo, de Leminski

Adoro Leminski, e amo esse poema, por isso não posso deixar de registra-lo aqui.

"Esta língua não é minha, qualquer um percebe.
Quando o sentido caminha, a palavra permanece.
Quem sabe mal digo mentiras, vai ver só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava uma canção longínqua, a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase".

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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Onde os sonhos se perdem

Hoje acordei com saudades de mim... saudades da menina que namorava com o sol e se apaixonava pelo futuro... Saudades da magia que realçava as cores do arco-íris, do cheiro de terra molhada, das músicas que me faziam promessas... Saudades dos sonhos que eu tinha e da “super-mulher maravilha-perfeita” que projetei, mas que nunca me tornei...


Saudades de tudo o que construí dentro de mim, e que hoje me vejo obrigada a desconstruir... porque os sonhos da infância são apenas sonhos, e diversos são os caminhos que nos afastam deles!

E o gosto da saudade é agridoce, mesclado de tristezas e alegrias... o que antes era certeza hoje é desilusão e no lugar do riso livre, botaram-me a ironia. A magia de tudo foi coberta pelo manto pesado dos nãos, e agora cores são apenas cores, flores são apenas flores e amores são apenas dores.

Minhas fadas sumiram no ar, perdi meu pozinho mágico, o portal para o fantástico fechou-se há muito tempo... Restou-me a alternativa de viver aqui, num mundo distorcido, onde o eterno é apenas um momento, os sentimentos são comprados e valores são vendidos.

Neste mundo minha pele de veludo deu lugar a espinhos, e o que era doce, agora arde. Tateio-me a procura de mim e só encontro vestígios de outros, e me assusta a imagem multiforme que reflito.

Saudade da minha alegriazinha de menina despertada por bem-te-vis, que alimentava sabiás, abraçava árvores e falava com flores... Saudade da coleção de folhas secas, de sementes coloridas e de lápis que me tornavam rica.

Nem lembro mais do rosto de meus amigos imaginários que me ensinaram do mundo... eles também me prometiam felicidade! Não sei onde foi que me perdi...

E eu que acreditava no amor, fui abandonada até pelos meus sonhos!

Saudades eternas do meu Fantástico Reino Encantado... é para lá que quero voltar!

Sobre paixão e vaidade

Parei para refletir um pouco sobre as paixões. O que são elas senão um excesso de nós mesmos, de nossas vontades, de nosso eu? Para quê tanta ânsia, tanta inquietude, tanta voracidade, quando o assunto é nosso Ego? Para quê exigir que alguém seja nosso se não somos de ninguém? O amor não deve ser livre? Por que simplesmente não amamos, sem que isso venha acarretado de exigências, cobranças, impetuosidades?


Amar por amar, amar porque quer bem, porque admira, porque deseja. Encantar-se pelo outro não apenas com os olhos, mas com a alma. E doar-se, com entrega, com verdade. E que essa doação seja pautada na verdade, na lealdade. Se por acaso deixar de amar, que a verdade e o respeito prevaleçam. O amor egoísta não passa de vaidade. Vaidade por se sentir admirado, desejado. Mas sem entrega. Contemplamo-nos como Narciso e nos vemos como Dionísio, Apolo, Afrodite, e como deuses, almejamos ser amados, idolatrados, mas sem nenhuma recíproca. Deuses que somos!

Envaidecem-se a beleza, o saber, as habilidades, o poder, mas as coisas mais belas e simples apenas são sem ao menos saber conceitos: as flores, a música, os pássaros, as árvores... tudo repleto de beleza, de plenitude, de perfeição, mas completamente alheios aos adjetivos. Contentam-se apenas em ser, em existir, em cumprir sua função na natureza.

Almejo ser como os seres simples. Libertar-me por completo das vaidades, dos prazeres vagos e passageiros que a vaidade produz. Amar sem egoísmo, conhecer sem soberba, fazer o que estiver ao meu alcance com esmero, mas sem orgulho. Jamais me incomodar com o que o outro possui. Libertar o outro, sem sofrimento, quando o amor for unilateral.

Quero aprender a viver sem os excessos e as vaidades para poder viver melhor, poder sentir o vento, o sol. Perceber cores, sabores, sensações, na plena essência do ser. Eu quero apenas ser. Viver com plenitude, em sintonia com a natureza, com o Universo. Quero contemplar as estrelas, o mar. Criar plantas e animais. Cantar.Conhecer pessoas. Amar de verdade, sem algemas, sem obrigações, sem exigências. Apenas ser, viver e amar pelo bom que é o Amor.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Holmes II

Algo de chocolate, café e mel. A imaginação gulosa deseja assim. No silêncio das palavras que não se diz, um colorido, uma festa e um indecifrável. 
Na alegria da chegada, o brilho moreno que afeta o olhar dissimulado. E ali, no fundo da alma, o segredo do doce que só na fantasia é. Mas o certo doutrina o segredo do sentir, mesmo quando escapa através dos olhos! Na alegria morna do esconderijo, brotam flores de encantamento. 
O pensamento travesso, que razão não domina,  teima em voar pra lá, para perto. E fica. Mas sabe do não pode! Esquece o amigo para almejar o outro, numa troca solitária de para sempre, de um lado único como muro grande, do não-nunca-jamais... 
O extrato de tudo é o sorriso leve, o querer engraçado, com ares de passarinho ousado. Que chega perto e voa ao menor gesto. E  tudo jaz e brilha  na caixinha dos segredos dela.