E o tempo passa... arrastando sua longa calda por entre os espaços, fendas, saudades... abre-que-abre a porta da memória, que de olho fechado e fumando cachimbo, solta na fumaça lembranças e cores e dores e risos e prantos...
Adoça o café da tarde com gotas de ressentimentos, e morde vagarosamente as alegriazinhas de agora. Olha pela janela estreita a nuvem que desfila despreocupada, bastante em ser, em esquecimento, em nada. Lá longe o azul grita perene, e larga nele os dez-encantos que enfeitam juventude...
Anda pela casa, deixa em cada passo um vestígio, uma memória, um eu-viví. Diante do espelho, os olhos acostumados à desilusão ainda abrem, pequeninos, cansados já.
Desembaça então a imagem puída! Renova? Onde está o desejado, o querido, o Eu-Sou? Já dorme esquecido em algum baú. As flores empalideceram, a música toca miúda, timidazinha... O poema calou-se na solidão.
Resta uma porta entreaberta... Passa de uma vez por ela e encontra a Luz...